Refúgio (One shot) - By Chris21

Esta One Shot foi feita pela Chris21, tá simplesmente linda, deixem a vossa opinião.

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Deitada no telhado de um prédio abandonado observo as estrelas. Este é o meu refúgio. É o sítio que escolho para ir quando quero esquecer a minha vida. A minha mãe morreu à um ano atrás e o meu pai decidiu que nos iria fazer bem uma mudança de ares. Mudámo-nos para a Alemanha. Para Berlim. O meu pai arranjou emprego rápido aqui, mas passa dias em viagens de negócios.Está fora vai fazer amanha duas semanas e ainda só me telefonou 5 vezes nestas duas semanas. Vivo praticamente sozinha. Casa, universidade, universidade, casa. Não tenho praticamente amigos nenhuns, não quero deixar ninguém entrar na minha vida. Não quero criar amizade com pessoas que me vão abandonar como fez a minha mãe, a minha melhor amiga Raquel que morreu à ano e meio atropelada por um condutor embriagado e como faz o meu pai constantemente. Os meus amigos de Portugal parecem ter esquecido que eu existo, teleforam-me nos 2 primeiros meses em que me mudei para aqui, Depois disso já nem consigo telefonar para eles. Mudaram os números de telefone e não me avisaram.Levanto-me, olho para a rua lá em baixo. As pessoas caminham indiferentes a tudo o que se passa à sua volta. Ninguém sabe sequer que eu existo. Ninguém sebe que noite após noite as observo daqui de cima. Que as observo do meu refúgio. Tenho saudades da Raquel. Ela fazia-me companhia.


Quando a lua tentar me encontrar
Diga a ela que eu me perdi
Na neblina que cobre o mar
Mas me deixa te ver partir
Um instante, um olhar
Vi o sol acordar
Por detrás do seu sorriso
Me fazendo lembrar (…)


Ouço passos atrás de mim. Calo-me e viro-me. Não vejo ninguém.


- Quem está aí? – pergunto a medo. É um prédio abandonado, nunca tinha encontrado ninguém ali, mas há sempre uma primeira vez para tudo. Surge um vulto, estava vestido de preto, parecia uma sombra na escuridão da noite.


- Não tenhas medo. Desculpa se te assustei. – um rapaz surge na luz da lua. Tinha o cabelo espetado e os olhos pintados de preto. Vestia-se de preto da cabeça aos pés e tinha a maquilhagem borratada. Tinha estado a chorar. – Não tinha intenção de te assustar. Só precisava de um sitio calmo para pensar e vi este prédio.


- É um bom sítio para pensar. É o que faço todas as noites aqui. - olho para a lua cheia, ele observa-me e olha também para cima. – A lua é boa conselheira.

Afasto-me dele. Sento-me de novo no chão. Absorta nos meus pensamentos, sinto-o aproximar-se e sentar-se ao meu lado.


- Quando cheguei estavas a cantar. Podes continuar? A música era bonita. – pede-me olhando para as estrelas. Um pedido estranho. Ele não entendia a música, era a minha música e da Raquel, em brasileiro. A música que me fazia lembrar cada momento passado junto dela.


- Mas tu não entendes a letra…


- Não faz mal. Canta na mesma. – uma lágrima corre-lhe pela face. Não lhe posso recusar o pedido. Continuo a cantar.


(…) Que eu posso tentar te esquecer
Mas você sempre será
A onda que me arrasta
Que me leva pro teu mar…
Sinto a calma em volta de mim
O teu vento vem me perturbar
Me envolve me leva daqui
Me afoga de novo no mar...
Um instante, um olhar
Vi o sol acordar
Por detrás do seu sorriso
Me fazendo lembrar
Que eu posso tentar te esquecer
Mas você sempre será
A onda que me arrasta
Que me leva pro teu mar (...)


Calo-me ele chora agora mais. Abraço-o, não sei porquê mas sinto necessidade de o abraçar. Não sei o que lhe aconteceu nem ele sabe o que me aconteceu a mim, mas temos uma coisa em comum… Uma profunda tristeza dentro de nós. Ele olha-me ainda com as lágrimas a correrem pela face.


- Já alguma vez sentiste que todos te abandonam?
- Sinto-o todos os dias da minha vida. É por isso que aqui estou. Porque fui abandonada por toda a gente. A minha melhor amiga e a minha mãe morreram e o meu pai passa semanas e meses em viagens de negócios. Não tenho amigos, não vale a pena tê-los. Todos acabam por me abandonar.


- Eu pensava que tinha amigos. Sou vocalista de uma banda e pensava que tinha na minha banda os melhores amigos que alguém podia desejar. Agora decidiram deixar-me. Dizem que querem mudar de vida. Que estão cansados das Tours, dos concertos, da vida de um lado para o outro… O meu próprio irmão abandonou-me…


Ele levanta-se e caminha até à beira do telhado olhando para baixo.


- Já agora sou o Bill. Foi um prazer conhecer-te.


- Eu sou a Chris. Também gostei de te conhecer. – levanto-me e caminho na sua direcção. Ponho-me ao seu lado.


- Já alguma vez pensas-te que não é possível ser-se feliz neste mundo? Que talvez a felicidade só exista lá em cima? – olha para o céu e de seguida para a rua aos nossos pés.


- Já. Muitas vezes. É por isso que venho para aqui. Para estar perto da única salvação para a minha vida.


Ele olha-me nos olhos e pega na minha mão. Olhamos para baixo. Para as pessoas que vivem indiferentes à nossa tristeza, à nossa solidão. Olhamo-nos mais uma vez.


(…) Me perco nos teus olhos (…)


Fechamos os olhos…


(…) E mergulho sem pensar (…)


Damos um passo em frente…


(…) Se voltarei... (…)



By Chris21 (http://chris-fanart.blogspot.com/)